quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O pastor, hoje


TEOLOGIA PASTORAL
(Pastor ou Empresário? Pastor ou Executivo?)



"O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas" (Jo 10.11).

"De boa vontade gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas" (2Co 12.15).

Aprendi nas Escrituras e no Seminário Presbiteriano de Campinas-SP, há mais de 50 anos, que pastor é aquele que, tendo sido chamado por Deus, dedica a sua vida a cuidar do rebanho de Cristo – "Apascenta as Minhas ovelhas" (Jo 21.16). É aquele que ama a Deus acima de tudo e seus irmãos na fé. "Se alguém não ama ao seu irmão, a quem vê, como amará a Deus a quem não vê?" (1Jo 4.20)

Aprendi que pastor é aquele que com convicção abraça a missão de pregar o Evangelho, pelo ideal de levar pessoas à salvação – "Ai de mim se não anunciar o Evangelho!" É aquele que tendo sustento e com que cobrir-se ‘está contente’ (1Tm 6.8). É aquele que está disposto sempre a ir aonde Deus o mandar, e a pregar aquilo que o Senhor ordenar (Jr 1.7).

É aquele que serve a Deus por ideal e altruísmo e não por torpe ganância (1Pe 5.2). É aquele que não se ufana de si mesmo, mas tem consciência de que em si mesmo nada é – "Miserável homem que sou!" Rm 7.24. É aquele que "não busca seus próprios interesses" (1Co 13.5).

Porém, pastores assim é o que vejo cada vez menos, inclusive na querida Igreja... * (preferi omitir o nome da igreja* - nota do blog)

Vejo pastores ávidos por bons salários; que estão prontos a deixar suas igrejas se outras oferecerem salário melhor; pastores com pressa de realizarem uma brilhante "carreira profissional"; que precisam pastorear igrejas cada vez maiores. Pastorear igrejas pequenas e congregações, isso era para o apóstolo Paulo, ou para pastores menos capazes; parece que pensam assim!

Vejo pastores que vêem igrejas como empresas, sendo eles os executivos, senão os próprios donos. Seu objetivo é ver a empresa crescer e dar lucro. O membro que não se mostre eficiente, seja esquecido e demitido. Paulo ensinava diferente: "Quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o..." (Rm 14.1). Vejo pastores irados contra crentes simples que não se enquadram nos conceitos do pastor.

Vejo pastores ciosos de seus direitos, que, embora recebam bons salários de suas igrejas, fazem absoluta questão de ver respeitado o dia de seu descanso semanal, mas nesse dia "fazem bico" para ganhar um salário extra, em vez de, nesse dia descansarem mesmo e dedicarem-se a enriquecer e reabastecer a própria alma (Ex 20.8): descanso e santificação.

Vejo pastores abandonando a "arte de pregar" e o ensino do discipulado, pelas novas "técnicas de crescimento de igrejas". Pastores que puseram de lado tudo o que ensinam a boa Liturgia, a Exegese Bíblica e a Homelética, para transformarem os cultos em "shows" de 2a. categoria, os sermões em "blá-blá-blá" vazios, sem qualquer conteúdo espiritual; para se transformarem, eles mesmos, em "animadores de auditório". Ou não lhes foram ensinadas aquelas matérias nos nossos Seminários? Pastores cuja motivação é o salário que recebem!

Vejo pastores que ignoram a Constituição da Igreja, o Código de Disciplina, e o sentido dos Regimentos Internos dos concílios; que não sabem que os relatórios devem retratar a vida espiritual das igrejas e dos concílios, e a deles mesmos; mas pensam que relatórios são apenas dados estatísticos, números que iludam às igrejas e a eles mesmos.

A reuniões dos concílios feitas às pressas, para cumprirem formalidades, pois a sua "política eclesiástica" é traçada nos intervalos, nas conversas extra-conciliares para atender os interesses particulares e corporativos. Que saudade eu tenho das reuniões dos presbitérios e sínodos realizadas com piedade real e oração!

Uma Igreja local ou nacional que, para continuar aparentemente viva, precisa transformar-se em clube e empresa dirigida por competentes executivos, como igreja já está morta – Ap 3.1: "...tens nome de que estás vivo, mas estás morto". Igreja que cuida muito do patrimônio material e das propriedades, inclusive de templos, mas não cuida da vida moral e espiritual, já deixou de ser Igreja cristã!

Mas, afinal, o que é que estou escrevendo? Um desabafo, uma lamentação, uma catilinária? Dê-se a este documento o nome que quiser, mas aqui está um alerta, um toque de trombeta chamando ao arrependimento todo aquele que seja aqui atingido, todo membro da Igreja que está em falta com Deus e com seus irmãos.

Não sou melhor do que ninguém, mas Deus me tem sustentado e mantido longe e fora de todas essas formas de secularização da Igreja.

Deus salve a Igreja!

(texto escrito em abril de 2004, mas ainda atual)

Autor: Pr. Rubens Osório
http://revrubensosorio.blogspot.com/

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